Situação de calamidade grave em Lémba, depois da catástrofe natural

São Tomé, 09 Março2022(Jornal31)- Aumentam em Neves, os casos de doenças diarreicas agudas. A população de Lembá consome água não tratada há três meses. As chuvas da passada sexta-feira(04.03), destruíram habitações, e duas principais pontes que atravessam a cidade estão na eminência de desabar a qualquer momento. O governo decretou estado de calamidade pública por um período de 15 dias.

A ponte provisória de Ribeira Funda afetada pelas chuvas intensas da passada sexta-feira, ruiu, e o antigo tabuleiro da ponte que ficou mergulhado nas águas, serve de passagem alternativa. Ao contrario da última segunda feira, desta vez o transporte e distribuição de combustível não teve impacto negativo na capital do País e arredores.

Os camiões cisternas circulam com alguma normalidade, e abastecem as centrais elétricas com combustíveis, para garantir o fornecimento de energia à população. Mas, em Neves as chuvas e as enxurradas mergulharam a já velha cidade do Distrito de Lembá, na lama.

Camiões cisternas, abastecem com regularidade as gasolineiras e as centrais elétricas

Quem presenciou as enxurradas, conta o drama, a tristeza, as perdas de bens materiais da frágil economia, e do pequeno comércio doméstico que a água levou. 

“A minha irmã perdeu tudo, os eletrodomésticos, entre outros bens… A nossa loja ficou totalmente destruída, o fardo (roupas usadas) negócio que tínhamos cá transformou-se num lamaçal” conta uma residente em Neves.

As enxurradas pintaram de cor castanha as ruas de Neves. A considerada cidade industrial de São Tomé, está mergulhada na lama e muito lixo. Os funcionários camarários de salubridade limpam a cidade, e os estabelecimentos de ensino. Enquanto isso, uma retroescavadora remove lama e os resíduos acumulados em toda cidade.

“Por favor, que o governo faça algo por nós. A água carregava torro de madeira. Era um momento de pranto e dor”  relata outra moradora da cidade de Neves.

Rio Provas, única fonte de abastecimento de água para a população de Neves

Vinte habitações ficaram destruídas. Mas o rasto de destruição não ficou por aí. As pontes sobre os Rios Provas e Contador que atravessam a cidade foram bastante afetadas pelo temporal, podendo desabar a qualquer momento. As enxurradas de 28, 29 de dezembro passado, e a da última sexta-feira(04.03), deixaram-nas ainda mais frágeis.

“O senhor Primeiro-Ministro Jorge Bom Jesus, veio dizer que bateu todas as portas, há promessas do Banco Mundial (…) mas, até agora ninguém pôs tostão algum” disse Edumeu Lima, Vereador para Área Social da Câmara de Lémba.

O Tribunal de Lembá está na Rua, as enxurradas e a subida do nível do mar entraram pela cidade adentro, destruindo muitas peças processuais.

“A forte enxurrada afetou gravemente o Hospital de Neves, os Tribunais, a Escola Primária, incluindo a empresa  Rosema” afirmou o Autarca.

Edumeu Lima, Vereador da Área Social da Câmara Distrital de Lémba

Em Lembá foi decretado 15 dias de “estado de calamidade pública”. Os estabelecimentos do ensino primário e secundário estão encerrados.  O projeto de desenvolvimento integrado de Neves promovido pela Igreja Católica, ficou gravemente afetado.

“Sofremos muito por causa das chuvas da sexta-feira, agora, além da via de acesso que não está boa, não temos nem água. Por isso, o Jardim vai ficar fechado até a próxima segunda-feira. Depois veremos o que podemos fazer. O depósito de água está cheio de lama” refere a Irma Franciscana hospitaleira, Maria Salomé Pinto.

Via de acesso à escola Secundária e Básica de Neves e ao Jardim Pimpolho

A população consome água turva do Rio (não tratada). Doenças diarreicas agudas tomam conta do Distrito.

“Muitas crianças estão a morrer aqui com febre tifoide, infeção urinária e diarreia. Não temos água potável”, refere uma jovem rapariga residente em Neves.

a Irmã Franciscana Hospitaleira, Maria Salomé Pinto, confirma que tem havido muitos casos de diarreia, e que a rede de proteção social da Igreja Católica em Neves “tem apoiado muitas famílias com os medicamentos”.

Irmã Franciscana Hospitaleira, Maria Pinto Salomé, coordenadora do projeto de desenvolvimento integrado de Lembá

Desde a ocorrência da primeira intempérie em Lembá, entre os dias 28 e 29 de dezembro passado, que cerca de 18 mil habitantes consomem água do rio. A estação de tratamento de águas ficou enterrada com lama, facto resultante das consequências da tempestade tropical que se abateu sobre o território nacional em menos de 4 horas do dia (04.03) sexta-feira.

Lembá, uma cidade mergulhada na lama a espera de ajuda humanitária. Existem comunidades isoladas há três meses em Brigoma e Roça Lémba, com o drama de falta de comunicação. Segundo as previsões meteorológicas, mais chuvas intensas são esperadas no País, durante a época chuvosa entre os meses de março e maio. Rios Pro-Vaz e Contador, transbordam causando destruição em habitações, inundações na agricultura, e deixam a população na miséria e sem condições sanitárias.

Por Ramusel Graça

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