Governantes são-tomenses defendem maior valorização e reconhecimento do 3 de Fevereiro

São Tomé, 05 de fevereiro de 2022 (Jornal 31) – As autoridades são-tomenses comungam a ideia de que a preservação da memória dos Mártires da Liberdade passaria por transformar a data de 3 de Fevereiro (dia do Massacre de Batepá) e o lugar de Fernão Dias num produto turístico.

A ideia foi lançada pelo Presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves, no final das celebrações de mais um 3 de Fevereiro que tiveram lugar em Fernão Dias, local onde foi erguido um monumento histórico em memória das vítimas do Massacre de Batepá.

“A Direcção da Cultura e a Câmara Distrital de Lobata devem aproveitar melhor este memorial, não apenas no dia 3 de Fevereiro nem na sua véspera” – afirmou Delfim Neves.

(Direita) Presidente Supremo Tribunal de Justiça, Silva Gomes Cravid (no centro), Delfim Neves, Presidente da Assembleia Nacional, e a sua (Esquerda), Aerton do Rosário, Ministro do Turismo e Cultura

Este governante defende que ao longo dos 365 dias úteis do ano que sejam promovidos colóquios, palestras e outras atividades de sensibilização sobre a cultura e valores identitários de um povo, no sentido do reconhecimento da importância e do verdadeiro significado histórico e trágico do dia 3 de Fevereiro.

Delfim Neves é de opinião que se construa um museu no local, para valorizar o memorial: “Julgo que temos que mudar de paradigma, basta de comemorar o 3 de Fevereiro sempre fazendo as mesmas coisas”.

Por seu turno, Jorge Bom Jesus, Primeiro Ministro de São Tomé e Príncipe afirmou, a propósito: “eu comungo desta opinião, precisamos de um museu, precisamos de mudar isto de forma a apetrechar essas atividades, de forma diferente. A cultura é dinâmica e os homens podem adaptar as realizações às novas circunstâncias.”

Recordar os mártires é celebrar a liberdade

As comemorações do dia das vítimas do Massacre de Batepá decorreram num âmbito muito restrito, face às circunstâncias da pandemia de Covid-19. A cerimónia foi reservada a um máximo de 60 convidados, tendo sido presidida pelo Chefe de Estado São-Tomense, Carlos Manuel Vila Nova.

O presidente contextualizou o histórico e funesto acontecimento do massacre de Batepá, referindo-se às suas causas e às consequências, que saldaram na morte de centenas de são-tomenses em Fernão Dias, pelo então exército colonial português.

Presidente da República, Carlos Vila Nova, acende a tocha em memória dos mártires da liberdade em Fernão Dias

Vila Nova, exortou o Governo e os São-Tomenses em geral a darem uma maior e merecida atenção “aos sobreviventes do massacre de Batepá“, que segundo as suas palavras “ são agora em menor número” .

“É o nosso compromisso na medida das possibilidades, é preciso olhar por eles, é ao País e a nós que cabe fazer” – afirmou o estadista são-tomense, que presidiu o acto, em Fernão Dias.

Os sobreviventes do massacre recebem actualmente a quantia de 600 dobras, o  equivalente a pouco mais de vinte euros, um valor que alegam ser insuficiente e estar muito aquém das suas reais necessidades.

Interrogado sobre a situação dos sobreviventes da Guerra da Trindade, Jorge Bom Jesus prometeu em breve reunir com os mesmos para melhor conhecer a realidade do grupo.

Primeiro-Ministro, Jorge Bom Jesus, a direita, a sua esquerda, Juiz Herlander Medeiros, Representante Tribunal de Contas

Em declarações à Imprensa, no local, o chefe do Executivo acentuou que a efeméride de 3 fevereiro é um evento em que se celebra a vida e se recorda os mortos. Uma história, segundo diz, regada de muito sangue dos nossos mártires, por isso a tradição nos traz para esta praia e este espaço, todos os anos”.

“Recordar os mártires é celebrar a liberdade. É um momento para que possamos refletir sobre o dia de hoje” – reforçou o Primeiro-Ministro São-Tomense.

Lápida que contem os nomes dos mártires da liberdade

O Massacre de Batepá de 1953, conhecido também pela Guerra da Trindade, aconteceu no Arquipélago por ordem do Governador da antiga colónia portuguesa, Carlos de Sousa Gorgulho. As tropas coloniais portuguesas reprimiram a manifestação dos trabalhadores das roças que reivindicavam melhores condições de vida, provocando centenas de mortos.

Por Ramusel Graça

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *